O abalo do mundo árabe e o terremoto no Japão







Nas últimas semanas, dois temas encheram as telas de TV, as ondas do radio, as páginas da imprensa e, como não poderia deixar de ser, os bytes da blogosfera – cristã, inclusive: o abalo por quem vem passando o mundo árabe e o terremoto/tsunami no Japão.
Surgiram especulações de todo lado, à destra e à sinistra: no primeiro caso, o do mundo árabe, muitos falaram sobre a relação que os eventos poderiam ter em relação a Israel. Eu não falei ainda sobre isso, porque prefiro esperar um pouco mais para que se tenha um quadro mais claro da situação. Enquanto no Egito Mubarak foi defenestrado, na Líbia Kadaffi parece, neste momento, estar retomando o controle. No Bahrein e na Tunísia a coisa ainda está nebulosa, mas em todo caso, me parece que o ponto principal é que papel terá a Irmandade Muçulmana no cenário pós-revoltas. O que se sabe é que esse é um grupo que existe há décadas, mas nunca se organizou politicamente de forma a influenciar governos, como por exemplo a Al Fatah, o Hamas e o Hezbollah. Teme-se que sua posição se revele anti-Israel, e aí sim o mundo pode ter motivos para se preocupar com uma escalada das hostilidades. Se a Irmandade de fato caminhar para esse lado e Kadaffi sair numa boa, mais uma peça se encaixa no cenário para a futura invasão a Israel, descrita em Ezequiel 38 e 39, sobre o que escrevi aqui.
Mas é preciso esperar um pouco mais.
Sobre o terremoto/tsunami no Japão, surgiram então diversas opiniões. A maioria delas relacionadas aos eventos apocalípticos, umas mais sensatas dizendo que é parte dos sinais que Jesus apontou como sendo “o princípio das dores”, mas outros extrapolaram, dizendo que é chegado o juízo sobre os idólatras, e que foi bem feito. Mas ou menos como o infeliz cônsul do Haiti em São Paulo, George Samuel Antoine, que na época do sismo naquele país (janeiro de 2010) disse que “A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido. Acho que de, tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo... O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá f####” (reveja aqui este absurdo). Se esta besteira fosse verdade, a Bahia á estaria no fundo mar faz tempo...
E por falar em besteiras, vi esta semana duas delas, ambas colossais.
A primeira foi da revista Veja (edição 2208), uma das mais notórias vitrines do PIG. Um de seus articulistas, exibindo sua posição ateísta, cita a crítica de Voltaire ao cristianismo, quando este notou que o grande terremoto que destruiu Lisboa e deixou mais de 50.000 mortos em 1755, aconteceu no dia “de todos os santos”. As igrejas estavam cheias na hora, e muitos morreram sob os escombros, ou no incêndio que se sucedeu, ou no maremoto que varreu o porto da cidade. O articulista se regozija quando Voltaire ridiculariza Leibniz, que tinha escrito que “vivemos no melhor dos universos criados por Deus”, e desdenha da idéia de que Deus tenha tudo sob controle. Termina dizendo que “é grande a crença de que um dia poderemos sobrepujar a natureza, por meio da ciência e da tecnologia”, e se penitencia dizendo que hoje em dia o Deus de Leibniz foi trocado pela Razão de Voltaire.
A segunda foi do Ricardo Gondim, que ao melhor estilo Caio Fábio, já foi respeitado, pois é um notório escrevinhador. De uns tempos para cá, deu para contemporizar certos pontos que poderiam, digamos, chocar sua audiência cada vez mais crescente, tipo o Rick Warren, suavizando as doutrinas mais duras do Evangelho. Nada mais de “arrependei-vos”, nada sobre o inferno, pula aquela passagem que fala do diabo. Só relacionamento, vida com propósito, e outras pasteurizações.
Pois bem, Gondim agora concorda com Voltaire. Disse o ex-pastor em seu twitter (@gondimricardo),:
“Ou Deus tem tudo sob seu controle ou Ele ama. Prefiro acreditar que Deus ama”
 “O amor não controla. Amor e controle são como água é óleo, não combinam. Deus é amor. Repita depois de mim: Deus é amor”
“Um Deus que tem propósito na miséria humana, na violência, na dor, é na verdade um diabo!”
 “Sou contra um Deus que chacina, que tem o mal sob controle e suja as mãos para conseguir o que quer”
 “A teologia que coloca todos os mínimos eventos "sob controle" precisa de seres humanos marionetados. Simples assim!”
“Toda a lógica retributiva acorrenta a gratuidade. Acreditar em um Deus que tudo controla, desumaniza e anula a criatividade”
“Deus cria o homem como o mar forma os continentes, retirando-se. Retira-se porque nos quer livres”
“Um deus q tem propósito pra tudo, inclusive pra o mal, é réu confesso! E a pena deveria ser a morte!”
Sobre tais asneiras, reproduzo o que escreveu o pastor Wilson Porte Jr., no blog “Púlpito Cristão”:
Percebam que, em todas essas afirmações, não há a citação de nenhum texto bíblico. Gondim deixa claro que não acredita que Deus está no controle de todas as coisas. Justifica-se com o papo da contingência, que, pra mim, é conversa pra boi dormir (e pra derrubar muito crente que quer dar uma de intelectual e não sabe que está cavando um buraco debaixo dos próprios pés).
[Gondim] não conhece o Deus da Bíblia. Tem um deus que ele mesmo criou em sua mente, cuja soberania e bondade não se encaixam ao desastre deste dia. Ele criou um deus em sua mente. Talvez por não conhecer o que as Escrituras dizem sobre o Deus trino que rege o universo com justiça e graça. (...)
O que DEVERÍAMOS estar discutindo (e refletindo) é:
Deveríamos chorar com os que choram;
Deveríamos orar pela vida dos que sobreviveram e, também, pelos, agora, órfãos, viúvas, etc.;
Deveríamos orar pelos países ainda em vista de serem atingidos pela tsunami;
E, por fim, e mais importante de tudo, deveríamos pensar no fato de que, todas as pessoas mortas na tragédia, estão vivas! Sim. Todas as pessoas mortas na tragédia, estão nas mãos de Deus que os separará em breve, como o trabalhador do campo separa o trigo do joio.
Eles estão vivos, na eternidade. Estão todos conscientes, aguardando o juízo do Justo Juiz. E, certamente, seu maior problema não será a infelicidade do desastre pelo qual passaram, mas seu arrependimento ou não de pecados diante da graça de Deus revelada na cruz de Cristo. A realidade desta vida é que, um dia, todos morreremos. Alguns, de um modo trágico. Outros, de um modo não tão trágico. A morte sempre trará tristezas, dúvidas, lamentações, e medos.
Deus está no controle de tudo! As pessoas que morreram estão nas mãos dEle. As que ainda morrerão, também não fogem de Sua soberania. Se Deus não controla o universo, quem então o faz? Se Deus não controla tudo, quem é responsável pelo mal? Seria o Diabo, Gondim? O acaso, a contingência? Se Deus não é Soberano, logo, não faz sentido esperar uma vitória sobre o mal. Se todo o futuro é uma possibilidade aberta, poderá acontecer de o mal, no final, vencer. Para mim, o nome disso é ARROGÂNCIA! Alguém que larga a Bíblia e passa a dissertar num suposto tom intelectual além de arrogante, deixa de ser cristão.
Antes que alguém me pergunte, não confundamos o tsunami com uma possível disciplina. Longe de nós tal pensamento. Só o Senhor reina! Só Ele sabe o por quê de tudo! Só Ele determina o que é e o que há de ser! Só Ele decide conhecer nosso futuro e apagar nosso passado (ao invés do contrário)!
“Faz subir as nuvens dos confins da terra, faz os relâmpagos para a chuva, faz sair o vento dos seus reservatórios” (Salmo 135:7); “Por isso, te anunciei desde aquele tempo e te dei a conhecer antes que acontecesse, para que não dissesses: O meu ídolo fez estas coisas; ou: A minha imagem de escultura e a fundição as ordenaram” ( Isaías 48:5). 
Que Deus tenha misericórdia de nós.
E para deixar clara a diferença entre o pseudo-teólogo, que engana multidões com suas reflexões humanas, cheias de “sabedoria humana e carnal”, termino reproduzindo o que John Piper escreveu na época do tsunami da Indonésia (dezembro de 2004):
Dos púlpitos para os jornais televisivos, do New York Times ao Wall Street Journal, a mensagem dos tsunamis foi perdida. É uma dor dupla quando vidas se perdem e lições não são aprendidas. Toda calamidade mortal é um misericordioso chamado de Deus aos vivos para se arrependerem. A Bíblia diz: “Chore com os que choram”. Sim, mas deixe-nos chorar também pela nossa própria rebelião contra o Deus vivo.
Primeira lição: chore pelos mortos.
 Segunda lição: Chore por você mesmo.
Toda calamidade mortal é um misericordioso chamado de Deus aos vivos para se arrependerem. Foi a impressionante declaração de Jesus para aqueles que lhe trouxeram notícias calamitosas. A torre de Siloé tinha caído, e 18 pessoas foram esmagadas. “E quanto a isso, Jesus?” eles perguntaram. Ele respondeu, “Vocês pensam que eles foram mais culpados do que os homens que habitam em Jerusalém? Não, eu digo a vocês; antes, se vocês não se arrependerem, todos de igual modo perecerão.” (Lucas 13:4-5)
O ponto de toda calamidade mortal é esse: Arrependimento. Que nossos corações sejam quebrados, pois Deus significa tão pouco para nós. Contristemo-nos porque Ele é um bode expiatório para ser culpado pelo sofrimento, mas não adorado por prazer. Lamentemos porque se fazem manchetes somente quando o homem zomba de Seu poder, mas não há notícias de 10.000 dias de ira contida. Vamos rasgar nossos corações, pois amamos mais a vida do que a Jesus Cristo. Vamos nos lançar na misericórdia de nosso Criador. Ele a oferece a nós através da morte e ressurreição de seu Filho.
Esse é o ponto de todo o prazer e todo o sofrimento. O prazer diz: “Deus é assim, só que melhor; não façam um ídolo de mim. Eu só estou apontando para ele.” O sofrimento diz: “O que o pecado merece é isso, só que pior. Não se ofenda comigo. Eu sou um aviso misericordioso.”
Nem o homem que escapou da poderosa onda subindo em  um telhado de palmeira entendeu. Ele concluiu: “Eu fui deixado ali com um imenso respeito pelo poder da natureza”. Ele errou. O ponto é: reverência pelo Criador, e não respeito pela criação. (...)
David Hart, escrevendo no Wall Street Journal, pronuncia: “Nenhum cristão está liberado para expressar odiosas banalidades sobre conselhos inescrutáveis de Deus ou sugestões blasfemas de que isto serve misteriosamente para os bons propósitos de Deus.”
Estas respostas estão previstas na Escritura: “Os vossos jovens matei à espada… contudo não vos convertestes a mim, disse o SENHOR.” (Amos 4:10). “E blasfemaram o nome de Deus, que tem poder sobre estas pragas; e não se arrependeram para lhe darem glória.” (Apocalipse 16:9)
Contrárias ao pronunciamento de Hart, as Escrituras Cristãs, de fato, nos autorizam a falar dos “conselhos inescrutáveis” de Deus e como Ele trabalha em todas as coisas para misteriosos propósitos bons. Chamar isso de banal e blasfemo é como um pássaro chamar o vento sob suas asas de perverso.
Jesus disse que o menor evento na natureza está sob o controle de Deus. “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai.” (Mateus 10:29). Ele disse isto para dar esperança a quem seria morto por seu nome.
Ele próprio andou sobre o mar e parou as ondas com uma única palavra (Marcos 4:39). Mesmo que a Natureza ou Satanás desencadeasse a onda mortal, uma palavra de Jesus a teria parado. Mas Ele não fez isso. Isto significa que há um desígnio neste sofrimento. E todos os seus desígnios são sábios, justos e bons.
Um de seus desígnios é o meu arrependimento. Por isso eu não vou colocar Deus em julgamento. Eu estou em julgamento. Somente por causa da vontade de Cristo é que as ondas que um dia me levaram embora, agora me trazem em segurança para o Seu lado.
Venha.
O arrependimento é um bom lugar para se estar.
E você, com qual dessas opiniões se alinha?

postado por Georges da UBE

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"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."
Agostinho de Hipona
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