Sintomas de uma igreja e ministérios enfermos.(Parte 1)






No pastoreamento de pastores, trocando idéias entre nós, conseguimos identificar os sintomas de uma igreja enferma. Os pastores aprendem a refletir e a pensar sobre si mesmos e sobre a igreja que pastoreia, colocando sua vida e a do povo sob o escrutínio da palavra de Deus e do olhar atento de seu colega de ministério. Vejamos alguns sintomas de enfermidades que assolam igrejas e ministérios.
1. Quantidade de reuniões.
Não se pode julgar que uma igreja seja enferma pela quantidade de cultos diários ou porque tenha apenas uma reunião semanal, mas as duas coisas se situam nos extremos da vida cristã e precisam ser analisadas. O excesso de reuniões indica que a igreja vive de reuniões e que os crentes ou membros vivem o entra-e-sai sem compromissos comunitário, isto é, carecem de um item essencial: propósito eterno de Deus e relacionamento entre as pessoas.
a) Algumas denominações têm cultos durante todo o dia, não porque querem evangelizar ou atender os que não podem freqüentar as reuniões nos horários normais de cultos, mas porque precisam de gente e de recursos financeiros para manter seu programa expansionista.
b) Outras têm apenas um culto dominical, porque são bem tradicionais e o povo é religioso. O culto de domingo de manhã faz parte da tradição. Durante a semana cada pessoa vive como quer.
c) Outras, no entanto, mantêm apenas um culto semanal, mas vivem integralmente a vida cristã. O encontro semanal é apenas um momento de adoração comunitária, porque seus membros não precisam de cultos para se manterem firmes na fé; a igreja tem outro tipo de estruturas que supre o ensino durante a semana.
Obviamente que não se pode medir a saúde de uma igreja pela quantidade de cultos e reuniões, mas pelo estilo de vida e comprometimento dos fieis com seus líderes, com a igreja e com o propósito de Deus. Agora, convenhamos: manter cultos diários ajuda a criar uma comunidade flutuante, o que não é bom.
2. Falta de relacionamento entre os irmãos.
Numa igreja saudável os irmãos valorizam mais o que acontece entre as reuniões, do que o que acontece nos cultos. As pessoas têm relacionamentos, se conhecem, estão juntas, celebram a vida cristã em festas, almoços, encontros nas casas, etc. São pessoas normais. Numa igreja que tem relacionamentos os membros são supridos espiritual e socialmente pelos amigos, não pela diaconia ou pela diretoria. Ninguém tem falta de nada porque um supre a necessidade do outro. A vida é vivida em obediência as mutualidades que Jesus e os apóstolos deixaram para a igreja. E são mais de trinta mandamentos de “uns aos outros” nas escrituras.
Percebe-se a igreja que não tem relacionamentos pelo comportamento religioso que as pessoas têm antes e depois de se começar um culto. Numa igreja sem relacionamentos os irmãos chegam, tomam seus lugares, e ficam em silêncio, olhando a todo tempo no relógio aguardando que algum líder dê as ordens. Quando o culto termina, em cinco minutos o templo ou salão está esvaziado. Todos correm pra casa. A individualidade fez parte do culto, e continua a fazer parte da pessoa durante a semana toda.
Na igreja relacional os irmãos chegam e conversam, importam-se uns com os outros, perguntam como foi a semana, se resolveu ou não aquele problema, como estão os filhos; oram uns com os outros; se abraçam, têm alegria incontida por se encontrarem mais uma vez e é difícil iniciar o culto daquela maneira tradicional, porque, na realidade o culto está em andamento desde que cada um chegou. A comunhão corre solta. Quando o culto se encerra, ninguém quer ir pra casa; querem ficar juntos, e, caso o prédio precise ser fechado – às vezes o zelador tem pressa – a comunhão continua na rua, na pizzaria, nas casas. Mas, esta é uma cultura que não se muda num ano; é preciso quase uma geração de novos irmãos para que se tenha algum resultado.
3. O conteúdo de suas reuniões.
É possível identificar uma enfermidade coletiva pelo conteúdo dos cultos. O Novo Testamento não nos deixou nenhum modelo de culto – felizmente – mas deixou frestas pelas quais enxergamos o conteúdo dos encontros da igreja primitiva que eram de comunhão, oração e exposição da palavra de Deus. Os comentaristas bíblicos pesquisaram este tema com muita profundidade no passado. A tendência é separarmos o tempo de oração do da comunhão, a comunhão – imaginando que seja apenas festas – quando a festa é apenas um pequeno detalhe, e a exposição da palavra de Deus, que é trazida para o campo do culto de estudos bíblicos. Todos os exegetas consultados opinam que as três coisas aconteciam juntas.
Uma igreja de crentes enfermos vive de reuniões; uma igreja sadia de relacionamentos.
A vida de adoração dos irmãos – o que acontecia no culto – do primeiro século é sintetizada por Tertuliano e se constituía em cânticos, orações cantadas, comunhão, o ofertar e o repartir de bens com os irmãos. Tertuliano, no norte da África é um dos poucos escritores que deixou um legado histórico. Ele precisou escrever para refutar as invencionices e calúnias levantadas contra a igreja, acusada de ser uma seita secreta. Seu relato é importante:
Somos um organismo com sentimentos comuns, com regras comuns da vida cristã, que nos reunimos com laços de amor e de esperança. Reunimo-nos para orar a Deus, e esforçamo-nos para manter comunhão com ele... Oramos pelos Imperadores, por seus ministros e por todos os que estão em autoridade, pela segurança do mundo, por paz e para que o fim do mundo seja adiado. Encontramo-nos para ler as escrituras... Também para exortarmos uns aos outros, e somos alertados divinamente... Nossos presidentes são anciãos aprovados, que detêm esta posição de honra não por que a compraram, mas por causa de seu caráter.
Cada homem traz algumas moedas uma vez por mês, ou sempre que desejar, mas apenas se quiser e se estiver disposto. É uma oferta voluntária. Pode ser chamada de oferta para os necessitados. Os recursos são gastos para ajudar nos funerais dos pobres...
Nossas refeições, pelo que o nome grego diz é uma ceia de amor (ágape). Ninguém toma lugar à mesa sem que primeiramente participe de um tempo de oração a Deus. Come-se apenas o suficiente para matar a fome, bebe-se o suficiente com moderação. As pessoas satisfazem seu apetite sabendo que, mesmo durante a noite devem adorar a Deus. Quando conversam entre si, sabem que seu Mestre os está ouvindo. Depois que é trazida a água para lavar as mãos e as lâmpadas foram acesas, cada pessoa é convocada a entoar hinos a Deus diante dos demais, cantando o que aprendeu das escrituras, ou do que sair (espontaneamente) de seus corações... Assim também, com oração, encerramos a refeição. (Tertuliano, Apologética, In F.F.Bruce The Spreading Flame, Eerdmans, p 198 – tradução minha).
4. Pela pregação de seus pastores.  

Hoje, os pregadores famosos do Brasil não são conhecidos por serem expositores da Palavra de Deus, mas por serem bons discursadores. Sabem provocar a emoção das pessoas, apenas, e não instigam o intelecto a pensar. A palavra de Deus, de fato, mexe com a emoção, mas também com a razão. Uma igreja enferma valoriza os “sapatinhos de fogo”, os “avivalistas” que prometem tantos milagres; pregadores sem conteúdo bíblico e despreza os pregadores que se atêm apenas na palavra de Deus. Uma igreja enferma é masoquista, isto é, gosta de apanhar. Até parece que os crentes de algumas igrejas pentecostais gostam de apanhar, de serem xingados, mal-tratados, pois, pelo que se vê os pregadores que “batem” no povo são mais aceitos dos que os que apenas utilizam a palavra de Deus para aguçar a vida espiritual dos seus ouvintes. Sinal de uma igreja enferma.


http://www.pastorjoao.com.br/
Pr. João A. de Souza Filho








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"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."
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