MARIA/MULHER/POESIA





Maria, o teu nome principia
na palma da minha mão.
E cabe direitinho
Dentro do meu coração”.

(Ary Barroso)

Dentre todas as mulheres que admiro, uma que se sobressai é Maria, a mãe de Jesus. Certa vez escutei certa canção que dizia: “Maria, um gesto que encanta gerações”. Penso nas razões do compositor e concordo com ele. Realmente aquele gesto foi mais que gesto. O que está por trás das simples palavras ao anjo: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra "(Lucas 1:38), é de uma dimensão sem medidas. Não pela beleza das palavras, pois são comuns até, e não estão arranjadas de forma poética. Mas o que está no princípio das mesmas, o que as moveu. A atitude que as fez brotar, surgir. Sim, pois quando as palavras afloram à boca, algo já as produziu na mente. E quando elas chegam à mente, é porque os seus fios já foram entretecidos no mais profundo do peito.

Digo que Maria é poesia. Primeiro por ser mulher. Pois a mulher, que é o princípio gerador das realidades (por isso, para enviar Cristo ao mundo Deus escolheu uma mulher), é um poema que Deus escreveu na natureza. Não foi sem razão que Walt Withman disse:

“Não se envergonhem, mulheres, seu
privilégio inclui o resto e é a saída para
o resto,
vocês são os portões do corpo, e vocês
são os portões da alma”.

E foi a mulher – este poema tão belo, de acordo com as narrativas bíblicas– que Deus escolheu para coroa de sua criação: depois de ter feito tudo, fez Ele a mulher. E este poema é tão forte que inspira o homem a fazer poemas outros em sua intenção. Começando com Adão, o primeiro homem, que quando viu Eva cantou:

“Esta sim, é osso de meus ossos
e carne de minha carne!
Ela será chamada ‘mulher’,
Porque foi tirada do ‘homem’!”
 (Gênesis 2:23)

Passando pelo “tremendão” Erasmo Carlos, que não resistindo aos encantos deste ser, deu vazão aos seus sentimentos assim:

“Mulher, mulher
na escola em que você foi ensinada,
jamais tirei um dez,
Sou forte mas não chego aos seus pés”.

E João Bôsco que certa vez compôs:

“O que queima e seduz, e enlouquece,
O veneno da mulher”.

Paro por aqui, pois a lista seria infinita.

É... a mulher tem este poder de fogo. O poeta Charles Baudelaire disse que é devido a mulher que:

"Os artistas e os poetas compõem suas jóias mais delicadas;de quem derivam os prazeres mais excitantes e as dores maisfecundantes... É antes uma divindade, um astro que preside todas as concepções do cérebro masculino, é uma reverberação de todos os encantos da natureza condensados num único ser;é o objeto da admiração e da curiosidade mais viva que o quadro que a vida possa oferecer ao contemplador. "

Interessante isso! Parece que realmente a sina da mulher foi ser alguém que concebe, que produz vida. E este conceber, este produzir, é tão forte que ela o transborda para os outros, movendo a inspiração dos homens, para que estes se deixem levar, e no embalo produzido pela força de concepção da mulher concebam, escrevam, e criem encantados poemas sobre ela, para ela.

Mas, Maria também é poesia porque, como diz Edmar Jacinto, toda boa poesia “nasce do útero da dor”. Não a dor física, mas a dor moral, pois a dor física anula os sentimentos criativos. Alguém que sentindo uma forte dor de estômago, ou tendo um dos seus membros decepado, se senta e escreve um poema, é uma exceção. O poeta Ferreira Gullar diz que:

A dor física, se de forte intensidade, tem o poder de anular momentaneamente nossa capacidade intelectual, reduzindo-nos ao nosso corpo – corpo que dói... a dor moral – ao contrário dador física, que nos reduz a condição de ‘corpo’ – nos coloca diante de nossos valores e de nosso destino.

É por isso que Maria é poesia.

Note bem, grávida e noiva, mas o filho que carrega não é do seu amado José. Agora ela corre o risco da difamação por parte do noivo, por parte da família, por parte da cidade. Corre o risco de perder o amor de sua vida. Corre o risco de perder o seu sonho de casamento. Corre o risco enfim, de perder sua própria vida; pois a traição marital era punida com a morte. Ela carrega uma incógnita no ventre. Quem seria Jesus? Que missão tão elevada seria esta? Como desempenharia esta missão? Era tudo tão estranho, tão absurdo, tão fantástico...

"A mulher, que não pode aproximar-se do Santuário, “conterá“ o Deus que aquele mesmo Santuário pretendia encerrar entre seus muros. A mulher, que não podia nem sequer ousar tocar na Bíblia, acolherá dentro de si a Palavra de Deus feita carne. A mulher, que não pode dirigir-se ao sacerdote, nem muito menos tocá-lo, será mãe do Santo dos Santos. O Deus, que jamais dirigiu a palavra a uma mulher, a chamará “Immà” (mãe)." (Alberto Maggi)

Por isso, Maria tem que ser poesia e das mais belas. Poesia gestada no útero da dor, e esperando dor, que como disse Simeão, semelhante a uma espada transpassaria sua alma, seu coração (Lucas 2:35). Dor que ela sentiu em toda sua intensidade, quando viu Jesus, o seu menino querido, filho dedicado, pendurado numa cruz, se esvaindo em sangue. E se é esta dor que gera poesia – a dor moral – Maria é chamada de poema com muita razão de ser.

Maria...

Esta que é a mulher mais importante da história, a “bendita entre as mulheres” (Lucas 1:42). Amiga, irmã, companheira, na mesma caminhada de fé no Cristo que salva.

Mulher que dá exemplo de posicionamento diante de seu Deus, diante da vida, e ao mesmo tempo conclama com sua atitude, todos os seus outros irmãos na fé, a imitá-la: “Façam tudo o que ele (Cristo) lhes mandar!” (João 2:5).

Maria/mulher “é um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta” (Milton Nascimento). Verdadeiramente ela foi “bendita entre as mulheres!” E as suas palavras continuam soando como um desafio a todas gerações: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra”. Gilberto Gil tinha razão: “A fé tá na mulher!”



3 comentários:

Graça e paz! já estou te seguindo, gostaria que você me segui-se também, que Deus Continue te abençoando um abraço do seu irmão em Cristo Pr. Gidel de Morais
este é meu blog http://icemcaraubas.blogspot.com/

Graça e paz>
Muito bom seu blog irmã!
Deus seja contigo!

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"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."
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